A menina da foto preto e branco
A menina parecia
desconfortável e apertada com aquele cinto afivelado na cintura, o vestido
branco recém passado e engomado tolhia seus movimentos, mas o bordado em volta
do pescoço e as mangas fofas davam-lhe um falso ar de delicada leveza.
Enfeitada com os presentes do batizado, trazia no pescoço o cordão com a
medalhinha de algum santo de fé da família, brincos de bolinha e a pulseira com
o nome gravado. Os sapatinhos com as solas limpas e novinhos em folha mostravam
o quanto ela foi preparada para posar para aquela foto. Seu rosto sério e olhar
compenetrado já traçavam a sua personalidade, mas suas mãos em posturas
conflitantes deixavam escapar a sua inquietude. Enquanto a mãozinha esquerda
pousava, espalmada e relaxada sobre o vestido, a mãozinha direita se fechava,
amassava o vestido, contraia o braço e elevava o ombro, numa tensão
indisfarçável.
Agora a menina cresceu e aprendeu que as emoções estão além da
dualidade e que a vida pode ser colorida.
Ela não precisa ser ora Ártemis, ora Afrodite. Ela não precisa ser
deusa, pode ser apenas humana e vulnerável.
A menina da foto preto e branco não precisa mais posar.
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