sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Emoção costurada


Ela foi educada para ser forte e rígida.

Sua emoção foi costurada com uma linha resistente e com pontos cirúrgicos que uniam a borda da extensa ferida na sua pele.

Os pontos poderiam ser retirados no tempo certo para que a cicatriz ficasse imperceptível. Mas eles foram ficando e franzindo a pele ao redor.

Ela sabia que retirá-los, tardiamente, significava sangrar.

Pensou que nesse momento de vida seria insanidade libertar a emoção contida.

Sua racionalidade a afastava de ideias imprudentes.

Ela tinha medo da loucura.

Sempre se manteve afastada de tudo que considerava estranho, anormal, louco, demente ou perigoso. Como se fosse uma doença contagiosa. E foi ficando encurtada, atrofiada, apática e quase sem voz.

Para curar-se, ela sabe que precisa sangrar e contemplar o mundo que tanto a assusta.

Sabe que tirar os pontos tardiamente dói.  Mas, continuar com a emoção costurada não é mais possível.

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