Emoção costurada
Ela foi educada para ser
forte e rígida.
Sua emoção foi costurada
com uma linha resistente e com pontos cirúrgicos que uniam a borda da extensa
ferida na sua pele.
Os pontos poderiam ser
retirados no tempo certo para que a cicatriz ficasse imperceptível. Mas eles
foram ficando e franzindo a pele ao redor.
Ela sabia que retirá-los,
tardiamente, significava sangrar.
Pensou que nesse momento de
vida seria insanidade libertar a emoção contida.
Sua racionalidade a
afastava de ideias imprudentes.
Ela tinha medo da loucura.
Sempre se manteve afastada de tudo que considerava estranho, anormal, louco, demente ou perigoso. Como se fosse uma doença contagiosa. E foi ficando encurtada, atrofiada, apática e quase sem voz.
Para curar-se, ela sabe que
precisa sangrar e contemplar o mundo que tanto a assusta.
Sabe que tirar os pontos
tardiamente dói. Mas, continuar com a
emoção costurada não é mais possível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário