RAIVA
escondida
camuflada
de você
de mim
do outro
do mundo.
Ela foi treinada a engolir
a raiva.
Embora tenha tido vários
ataques de raiva durante a infância e a na adolescência.
Na vida adulta foi
aprendendo que a raiva deve ser contida.
E ficou boa nisso.
Reconhecida por ser calma,
ponderada e conciliadora.
Tem se saído bem.
Elogiada.
Quando fica possessa de
tanta raiva, se tranca no quarto, resmunga, chora e soluça.
Pouquíssimas vezes, se dá
ao luxo de gritar, quebrar o que está na frente ou partir para a briga.
Acho que ela nem lembra
mais como é isso.
Afinal raiva do chefe, dos
filhos e do marido, precisa ser engolida.
Melhor assim!
Deixar esfriar!
Perder o emprego nesse
momento difícil? Deixa disso!
Engolir um sapinho? Mole
para nós!
Brigar com filhos? Nem
vale a pena! Afinal o motivo por que eles brigam hoje ela já conhece desde os
vinte anos.
Vão crescer!
Brigar com o marido? Esse
sim!
Bagunceiro, desorganizado,
espalha coisas pela casa (livros em cima da mesa, toalha molhada no chão do
banheiro), perde a chave do carro, esquece de pagar a conta...
Gastador, nem se preocupa
com a conta no vermelho.
Acumulador, jamais joga
algo fora.
E sempre de bom humor!
Que bom humor é esse?
Que raiva ela sente desse bom
humor.
Ela tem toda a razão de
ter muita raiva.
Ele é insuportável.